segunda-feira, 18 de maio de 2009

Parecer Técnico Relativo à Análise da Localização de um Parque Eólico

Introdução
O recurso a esta opção energética renovável está a crescer exponencialmente, sobretudo na Europa – onde se concentra 75% da capacidade dos parques eólicos do mundo. Instalados nas linhas de cumeada das serras – onde há mais vento – os aerogeradores estão a tornar-se num novo elemento da paisagem. É no mínimo curioso que um projecto destinado a produzir energia limpa, sem problemas de poluição e que utiliza a brisa como combustível – constituindo um símbolo ecológico por excelência – seja alvo de conflitos ambientais (Garcia, 2004).

1. Definição do projecto

O projecto em análise consiste na criação de um Parque Eólico, destinado à produção de energia eléctrica a partir do vento, com uma potência prevista de 18MW. O Parque tem duas alternativas possíveis, a primeira situada em Vilar de Brisa do Mar, no Monte dos Vendavais, sendo que a alternativa seria no Monte das Tormentas.
A primeira alternativa fica situada a cerca de 800m a SSW do marco geodésico de Vilar de Brisa do Mar e apresenta uma orientação geral NE/SW. A localização alternativa situa-se no marco geodésico do Monte das Tormentas e apresenta uma orientação geral NNE/SSW. Cada torre do parque eólico será constituída por duas turbinas médias e bi-pá a sotavento e duas partes metálicas e tubulares, com aerogeradores WPN40.

2- Justificação da Necessidade do Processo

Existência de “vento”

A configuração orográfica e geográfica de Portugal, apenas permite a instalação de parques eólicos nas zonas mais elevadas e montanhosas. Nas zonas planas o vento tem velocidades médias muito baixas, e portanto a energia produzida é de tal modo baixa que inviabiliza economicamente o projecto.
Para que um parque eólico seja rentável, o vento no local terá de ter uma velocidade média anual bastante elevada, superior a 7 a 8 m/s. Segundo os estudos disponíveis, a velocidade média do vento entre Fevereiro e Setembro de 2008, extrapolada para uma altitude de 30m e de 60m foi, respectivamente, de 8,2 m/s e 8,4m/s. O factor “vento” garante a rentabilidade do parque eólico.

Situação actual da energia eólica em Portugal

A produção de energia eólica tem-se desenvolvido um pouco por todo o mundo e Portugal não é excepção. Esta forma de energia apresenta vantagens comparativamente às formas tradicionais na medida em que é utilizada uma energia renovável que não acarreta a libertação de poluentes atmosféricos e a maioria dos materiais que compõem um aerogerador são recicláveis, pelo que a sua desactivação não apresenta problemas relevantes. No entanto é preciso não esquecer as desvantagens associadas a um projecto deste tipo designadamente aos impactes na paisagem, o ruído
causado pelos aerogeradores, bem como os riscos potenciais para a avifauna (sobretudo se o parque estiver localizado numa rota de migração).
Ressalva-se, porém, que o principal objectivo de uma política energética portuguesa deverá ser a promoção da eficiência energética. Como objectivos secundários, virá a promoção de formas de energia renováveis e a sua produção descentralizada. Dever-se-á, igualmente, ter em consideração as obrigações internacionais assumidas por Portugal, nomeadamente o Protocolo de Quioto.

Contributo para o cumprimento das metas nacionais – potência instalada

De entre as fontes renováveis para electroprodução, a energia eólica é a que apresenta hoje em dia, em Portugal, maior potencial, com viabilidade económica interessante e impactes ambientais moderados. Para o cumprimento da Directiva das Energias Renováveis, discute-se a contribuição do empreendimento em questão para atingir, em 2010, o patamar de 39% do consumo bruto de energia através de fontes renováveis, já que para a potência prevista de 18MW, perfaz cerca de 0,5% do total
necessário (RNT, pp2).
Refira-se, no entanto que a energia eólica tem uma condicionante intrínseca: a potência disponível sofre de elevada variabilidade em função da meteorologia, implicando sempre a existência de sistemas produtores alternativos.

Contributo para o cumprimento das metas nacionais – redução de GEE


Segundo o Portuguese National Inventory Report (2003) “o total de emissões em Portugal é de 83,8 MTon CO2 eq. em 2001, representando um aumento de 36,4%, comparativamente aos níveis de 1990”. O mesmo relatório considera ainda que “a energia é de longe o sector mais importante (73% das emissões de GEE em 2001), representando um aumento de 51% entre 1990 e 2001.”
Em Portugal um aerogerador de 2 MW (= 2000 kW) que opere em média 2 200 horas por ano evita a emissão de 3 500 toneladas de CO2 para a atmosfera (APREN, 2004). Conforme os dados que constam no EIA, “para o horizonte de vida útil do projecto (20 anos), o projecto permitiria poupar a emissão de 420800 Ton CO2, considerando o combustível mais limpo - gás natural” (RS, pp23). Comparando tal valor com o ano de 2001, o parque eólico em causa pouparia, aproximadamente 25%
das emissões relativas e este gás.



4. Questões Chave em Impactes Ambientais

Sendo as energias renováveis fontes menos poluentes, não são completamente isentas de potenciais impactes ambientais negativos gravosos, caso a sua implementação não seja efectuada de forma muito criteriosa. Este é o caso da produção de energia através do vento numa zona de importante para a conservação da natureza a nível Nacional e Europeu - Rede Natura 2000. Alguns dos principais impactes nesta área encontram-se associados à fase de construção, nomeadamente:

• Escavação nos acessos, valas para os cabos de ligação e fundações das torres;
• Transporte de materiais de escavação para o local de depósito;
• Transporte de materiais de construção;
• Construção e montagem dos equipamentos.
5. Análise das localizações possíveis do parque eólico


Foram feitas medições nos dois locais, nos períodos de Outubro de 2008 a Março de 2009, nas quais foi possível aferir as velocidades médias do vento. Para complementar a análise foram recolhidos dados do Instituto de Meteorologia. Dos dados recolhidos foi possível constatar que a média anual da velocidade do vento no Monte dos Vendavais, que se situa a 190m acima do nível do mar, atinge os 22 m/s.
Por sua vez, a opção de localização situada no Monte das Tormentas, que se encontra a 31m de altura, atinge uma velocidade média do vento de 5 m/s, sendo de realçar que nos meses de Junho a Setembro há um período de inexistência de vento, segundo os dados recolhidos no Instituto de Meteorologia, e corroborado pela população local.


6. Conclusão


Analisando os dados recolhidos, o Monte dos Vendavais torna-se a escolha óbvia. A começar pela altitude superior, e mais favorável à ocorrência de vento, o que de facto sucede, sendo esta a única opção que cumpre o requisito mínimo de vento necessário para tornar o projecto de construção do parque eólico viável (7m/s).
A localização em Vilar de Brisa do Mar apresenta ainda uma vantagem significativa no espaço que dispõem para a construção do parque. Os 20 hectares disponíveis são consideravelmente superiores aos escassos 2 hectares do Monte das Tormentas, que por si só tornariam inviável a construção de um parque eólico com 15 torres, independentemente do vento produzido no local
Para finalizar será conveniente referir que o impacto visual do parque num monte de apenas 31 metros acima do nível do mar, terá um impacto visual mais acentuado e contrastante do que se a localização for em Vilar de Brisa do Mar.
Por todas as contingências e factos analisados elejo a localização do Monte dos Vendavais não só como a melhor opção mas a única opção viável das duas possíveis em estudo, salvo melhor opinião.


7. Referências Bibliográficas


APREN (2004): Energias Renováveis em Portugal. Lisboa: Associação Portuguesa de Produtores Independentes de Energia Eléctrica de Fontes Renováveis. Disponível em: www.apren.pt.
Ferreira ,V. e Pereira, T. (2003): Portuguese National Inventory Report on Greenhouses Gases 1990-
2001. Submitted under the Nations Framework Convention on Climate Change: Ministério das Cidades,
Ordenamento do Território e Ambiente e Instituto do Ambiente.
Garcia, R. (2004): Sobre a Terra – Um guia para quem lê e escreve sobre ambiente. Lisboa: Publico.
GEOTA (2004): Produção de Energia Eléctrica em Portugal: Aposta indispensável na Economia e na
Eficiência energéticas!. Lisboa: Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, 16 de Fevereiro de 2004. Disponível em: www.geota.pt.